
Encontro reúne lideranças, comunicadores e mulheres indígenas para debater cooperação internacional, justiça climática e a força dos saberes ancestrais na defesa da vida.
O primeiro dia do Tapiri Ecumênico Inter-religioso foi marcado por trocas profundas e inspiradoras sobre os rumos da cooperação internacional, a justiça climática e os saberes indígenas na proteção da vida e dos territórios. O evento reuniu mais de 180 participantes entre lideranças religiosas, comunicadores populares, organizações da sociedade civil e mulheres indígenas do Brasil, da América Latina e da Oceania.
A programação foi aberta pela Roda de Diálogo “Panorama Atual das Políticas de Cooperação Internacional: União Europeia, EUA, China e o Papel das Fundações Privadas”, promovida pelo PAD – Processo de Articulação e Diálogo. O debate trouxe uma análise crítica sobre as estratégias de atuação desses atores globais e os impactos de seus financiamentos na autonomia das OSCs brasileiras.
Foram discutidas as diferenças entre os modelos de cooperação da União Europeia, dos Estados Unidos e da China, bem como o papel crescente das fundações privadas e fundos filantrópicos internacionais na definição de agendas e prioridades no campo social e ambiental. O diálogo destacou a importância de fortalecer parcerias horizontais, promover solidariedade entre povos e garantir autonomia e soberania às organizações da sociedade civil no Sul Global.

Ao final da Roda de Diálogo coordenada pelo PAD, os mais de 180 participantes construíram de forma coletiva uma carta do encontro, que será divulgada em breve.
Durante o dia, outras mesas ampliaram o debate em torno de justiça, comunicação e ancestralidade. Em destaque, a Mesa “Não há justiça climática sem justiça na comunicação”, coordenada pela WACC – Associação Mundial para a Comunicação Cristã, ressaltou o papel essencial da informação livre, plural e responsável na construção de um planeta mais justo.
O debate destacou que a crise climática não é apenas ambiental ou técnica, mas também política e comunicacional. Foi enfatizado que territórios historicamente marginalizados são os mais afetados pelos impactos do clima, mas seguem invisibilizados pela grande mídia. A CESE, que tem se destacado na promoção de uma comunicação contra-hegemônica e comprometida com os direitos humanos, apresentou experiências de enfrentamento aos fundamentalismos, ao racismo religioso e à defesa do Estado laico, reafirmando a importância da comunicação como instrumento de incidência política e transformação social.
A Mesa “Vozes da Terra: troca de saberes indígenas sobre clima e diversidade” reuniu representantes indígenas do Brasil, da América Latina e da Nova Zelândia, em uma conversa potente sobre a preservação dos territórios e o uso das tecnologias como ferramentas de denúncia e proteção.
Entre as participantes estavam Tainá, da Brigada Guardiões com Maruana, que destacou o protagonismo das mulheres indígenas na vigilância territorial e no cuidado com a floresta; Joxante, do povo Gavião, médico formado pela UFPA; e Larissa Gama, da etnia Baré, de Santa Izabel do Rio Amazonas.
O grupo discutiu a importância de fortalecer espaços de diálogo como o Tapiri Ecumênico, que permitem visibilizar denúncias — como as relacionadas às queimadas — e articular ações coletivas em instâncias como a Cúpula dos Povos.
Encerrando o dia, um momento de celebração e memória marcou o lançamento da publicação e do vídeo “Rio de Memórias Patak Mayumi Autonomia”. A obra resgata trajetórias e experiências de mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado, protagonistas na defesa dos territórios, dos direitos coletivos e da continuidade dos saberes ancestrais.

Mais do que um registro, o material é um ato de afirmação política e cultural, que reafirma a presença dessas mulheres como guardiãs da vida, da autonomia e da diversidade que sustenta o planeta.
Kátia Visentainer – Comunicação PAD
Fotos: João Daebs – CESE